domingo, 4 de setembro de 2016

A estrela se apaga

A desmoralizante política de cambalachos com o patronato companheiro desaguou, como era de se intuir, se não esperar, na vergonhosa derrota sem luta - que não se confunde com dissipação de energia militante em mobilizações a esmo, muito menos com esperneio, autocomiseração e lamúrias - ante o golpe parlamentar desfechado pelos amigos da onça da "base do governo". Um trágico epílogo para a "Carta aos Brasileiros".

Não bastasse, da classe social detentora dos naming rights do PT, nem uma única iniciativa extra-partidária, extra-aparato-sindical e extra-governamental - vale dizer, independente - em defesa do mandato ou do governo Dilma Rousseff veio ao conhecimento da nação.

Não estranha. Já faz tempo que, incorporada ao mundo dos negócios, a liderança histórica do Partido dos Trabalhadores renunciou à sua classe, consequentemente à construção de um programa político para o trabalhadorado do século XXI. Em seu lugar, consentiu e incentivou que a burocracia partidária o transformasse numa máquina parlamentar e publicitária autorreferida como "de esquerda", empenhada em disputar aos velhos e novos círculos políticos, jornalísticos e intelectuais "de direita” - sob a bandeira do pacto social desenvolvimentista e ao preço da transferência de migalhas da renda nacional aos "mais pobres" - a primazia na condução e arbitragem do conúbio parasitário das corporações patronais com seu próprio Estado.

Consuma-se assim, no meu modo de entender, o divórcio entre o PT e a classe que o pariu para representá-la na década de 1980.

Doravante, o tag Partido dos Trabalhadores será substituído, neste blog, pelo tag PT, simplesmente. A organização política de classe dos trabalhadores brasileiros - por extenso e em minúsculas, para dar asas à razão histórica e ao orgulho plebeu - está, uma vez mais, vacante.

Recriá-la, quem sabe sob novas formas, é o problema básico que têm as novas gerações a resolver. 

Pois se a classe trabalhadora, com toda a diversidade inerente às multidões urbanas do século XXI, não for capaz de reconhecer a si própria como força social distinta, oposta ao patronato e candidata ao comando da vida econômica da nação - e do mundo do qual todo país é hoje irrevogavelmente dependente -, só nos restará torcer por algumas sobras de lugar no último comboio da Fundação Barack Obama para - acreditem - o Planeta Vermelho!

2016-09-04