sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Sem frente, derrota iminente!

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Imagem original: A Amigo da Onça,
por Péricles (1924-1961)
Pelo que que se lê nas redes, nos saites e nos jornais, tem-se a nítida impressão de que, enquanto o mandato da presidenta eleita é criminosamente usurpado por um conluio entre o Congresso e o STF, os partidos democráticos do país (PT, PSOL, PSB, Rede, PDT e outros a tirar e pôr a critério do leitor) se mostram muito mais preocupados com as eleições municipais.

Não resta dúvida de que, nas circunstâncias de HOJE - 26 de agosto de 2016 -, é obrigação dos partidos autenticamente democráticos disputar as eleições municipais inserindo em suas campanhas a exigência "Fora Temer", a denúncia do Congresso golpista e do STF arquiconservador e a defesa das conquistas sociais e democráticas contra o governo usurpador e reacionário Temer-Meirelles.

Mas a óbvia impotência da maioria da nação perante o fato crucial - a operação de destituição, por motivo fútil, do governo constitucionalmente eleito - resulta de que esses mesmos partidos democráticos, a começar pelo PT e pelo PSOL (pelo grau de responsabilidade política que deriva de sua origem comum, o Partido dos Trabalhadores nascido das lutas operárias do ABC/80) foram incapazes de, no momento oportuno - e ele existiu, semanas atrás! - organizar, ou combater seriamente por, uma autêntica frente democrática contra o impeachment, suprapartidária, nacional e aberta a todas as personalidades públicas e organizações da sociedade civil.


Se o tivessem feito, poderíamos ter, na mesma ocasião em que o Senado e o STF se acoplam para "julgar" Dilma Rousseff, quem sabe a reunião de uma assembléia nacional dos comitês anti-impeachment a exigir a extinção do processo parlamentar, a destituição imediata do usurpador Michel Temer, a dissolução do Congresso golpista e a convocação de um Congresso Constituinte soberano para acabar com a República das Empreiteiras (algo que que a Lava-Jato e Sergio Moro jamais farão) e retrofitar a democracia no país - incluindo o ultraconservador STF! A depender das circunstâncias, poderia ser o caso até de propor o boicote às eleições municipais!


Desgraçadamente, a frente suprapartidária contra o impeachment de Dilma foi descartada, a priori, pelos partidos democráticos em prol, no caso do PT, de sua obsessão burocrática pelo monopólio da "política progressista" e, no do PSOL, de sua consoladora rotina de responder a todos os problemas com o aceno à constituição de uma estorvante, e em última instância inútil, "frente das esquerdas". 

É doloroso dizer: PT e PSOL negaram aos brasileiros - por omissão, no melhor dos casos - a realização da indispensável unidade de ação organizada de todos os indivíduos e entidades civis antagonistas do impeachment! 

A derrota é iminente. 

As consequências desse fracasso têm, por ora, o aspecto de um mero passo atrás. As garantias democráticas seguem mais ou menos como têm estado desde o fim da ditadura - "normais" para muitos, plenas (e até abusivas) para os que têm acesso a foros privilegiados e advogados famosos, inexistentes para um enorme contingente de párias sociais. Mas ninguém está sendo preso por delito de opinião ou por expor suas ideias na Internet. 

Contudo, a continuada perseguição a Lula - totalmente desproporcional ao miserável peculato de que o acusam -, assim como a tentativa de excluir o PSOL dos debates eleitorais na TV, servem de alerta. Um passo atrás depois do outro pode significar, em face de um confronto sério, a queda no abismo!

Na luta pela democracia e pelos direitos dos trabalhadores, a pura e simples unidade de ação por objetivos comuns, sem condições e pressupostos outros que não a independência organizacional e a liberdade de crítica, se sobrepõe em todos os casos às necessidades e conveniências dos partidos, independentemente de quão singularmente democráticos, progressistas e esquerdistas eles se reivindiquem. 

A longo prazo, nenhum partido ou organização política que ignore essa lição elementar, já velha de guerra na história dos movimentos democráticos e socialistas, sobreviverá como força progressista relevante; a democracia definhará; e o socialismo - este continuará sendo uma utopia reconfortante, o reino dos céus para os que não creem no inferno.


2016-08-26

PS: A organização política de classe dos trabalhadores brasileiros está vacante.